Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

Um vilão chamado Home Office

Querem mais um vilão no mundo

Um vilão chamado Home Office

Voltou a moda de falar mal do Home Office. Um certo CEO anda detonando esta modalidade de trabalho, afirmando o quanto é ruim para as organizações, denegrindo, inclusive, quem trabalha neste regime. Enfim, resolvi dissertar sobre, trazendo à luz da discussão outros pontos-de-vista.

Um pouco de contexto

Eu comecei a trabalhar em regime home office em 2009, muito antes da pandemia. Fui forçado a este regime pois havia acabado de mudar de cidade e não consegui me empregar. Foi quando resolvi empreender pela primeira vez.

Como não tinha dinheiro, o home office foi a única opção viável na época. Não dava para gastar em um aluguel de escritório, ainda mais com toda a incerteza que envolvia empreender. E, na época, a decisão foi muito acertada pois a empresa que fundei com dois amigos foi fechada 6 meses depois de ser aberta.

Permaneço trabalhando neste regime até hoje, atuando no mercado internacional de desenvolvimento de software. Trabalho, normalmente, no fuso horário dos meus clientes, no intuito de manter a comunicação simples, eficaz e eficiente.

Claro, fui obrigado a me adaptar a este regime de trabalho. A comunicação muda de meio, a forma de colaboração também é diferente. Precisei organizar um escritório em casa, que me permitisse trabalhar sem interrupções.

Home Office pode não servir para sua organização

Bom, o home office não é uma bala de prata. Ele pode não ser adequado à cultura estabelecida da sua empresa. Empresas pré-pandemia tiveram de adaptar-se à força para não fecharem as portas. E estas empresas tiveram uma queda considerável em sua produtividade. A questão é que estas organizações não se adequaram ao estilo de trabalho exigido pelo home office. E são estas empresas que estão voltando ao regime presencial.

Apesar de todos os benefícios do home office, é necessária uma adequação no processo de trabalho para que seja um esquema produtivo. Ou seja, os processos internos precisam mudar. O interessante é que isso não é óbvio.

Uma mudança de processos não é uma mudança simples. É uma mudança complexa e que pode ter um alto custo. Empresas que estabeleceram seu método de trabalho no entorno do regime presencial dificilmente conseguirão produtividade em outro modelo. O fato é que o modelo de negócios foi baseado no modelo presencial, modelo este que foi depurado por muitos anos.

O movimento já existia antes da pandemia

Antes de continuar, uma intermissão: o movimento do home office já existia antes da pandemia. Várias empresas já estavam testando o modelo. Inclusive, costumo citar o caso de sucesso da Exp Realty, empresa do setor imobiliário que mantém um escritório minúsculo apenas para cumprir a lei do estado norte-americano onde foi fundada. Os seus quase 30 mil colaboradores trabalham on-line, em regime home office.

A principal vantagem que as empresas viam neste modelo era a diminuição considerável dos custos de manutenção de um escritório físico, além do tempo gasto pelos colaboradores para se deslocar até o local de trabalho, tempo este que passa a ser utilizado para a atividade produtiva. Ou seja, os colaboradores passaram a fazer mais cursos e a desenvolver profissionalmente suas habilidades.

Você não trabalha menos no home office

Um dos principais argumentos contra o home office é justamente o fato de se trabalhar menos. Em verdade, desde que comecei neste modelo, eu trabalho bem mais do que as parcas 40 horas semanais. Já cheguei a trabalhar quase 20 horas em um dia quando fazia parte do captable de uma startup que eu co-fundei em 2017.

Por não haver tempo de deslocamento até o local de trabalho, você acaba trabalhando até mais do que as 8 horas diárias.

O processo de trabalho é outro

O processo de trabalho do home office é muito diferente do modelo presencial. E é esperado que seja diferente pois a forma de interação muda completamente. É preciso treinar as pessoas para novas formas de interação, de colaboração, de troca. Tentar usar o mesmo método que existe no modelo presencial é receita para o fracasso.

A hora do cafezinho e os encontros casuais nos corredores, por exemplo, deixam de existir. No entanto, para suprir essas interações, normalmente são criados horários para bate-papo virtual, que é onde grandes ideias surgem. Algumas empresas, inclusive, financiam hackathons e atividades on-line no intuito de permanecerem inovando.

Se não serve para você, tudo bem

Enfim, se o home office não serve para a sua organização, tudo bem. Como eu disse, o home office pode realmente não ser adequado. Não é uma bala de prata. Porém, generalizar a sua experiência e afirmar coisas como “isso não funciona”, ou “quem trabalha assim é vagabundo”, demonstra desconhecimento da matéria.

Em 15 anos trabalhando neste esquema posso afirmar que aumentei minha produtividade enquanto programador. Além disso, sempre trabalhei duro, inclusive fins de semana e feriados. O home office funciona, mas depende de uma série de fatores para funcionar adequadamente. A organização precisa estar preparada para isso e precisa treinar seus colaboradores para obter o máximo de performance.

Entendo que várias pessoas tiveram experiências negativas, mas são apenas elementos de um universo muito maior. Generalizar estas experiências negativas traz uma visão limitada do modelo e dos seus benefícios às organizações.