Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

Seu plano de negócios pode estar errado

Ou como criar uma startup que vai afundar

Seu plano de negócios pode estar errado

Com a popularização dos smartphones e dos apps, proliferaram-se as startups que entregam serviços através de aplicativos. Quase todo mundo, hoje em dia, tem uma ideia mirabolante que vai se tornar o próximo Über,ou o próximo AirBnB. Plano de negócios pronto, vamos construir o app para chegar aos clientes. Mas… Será que não falta nada?

Começando sem dinheiro

A grande maioria dos empreendedores começam do mesmo jeito: sem dinheiro. E para tentar contornar a falta deste recurso, normalmente optam pelo trabalho de freelancers para construir a primeira versão do aplicativo e da plataforma que dará suporte ao aplicativo.

Normalmente freelancers cobram mais em conta do que fábricas de software justamente por que não sofrem com todos os custos e encargos que uma empresa especializada precisa cobrir. E, via de regra, os freelancers são profissionais muito competentes, com alto valor de mercado.

No entanto, é preciso tomar cuidado ao contratar freelancers. O primeiro cuidado é ter um contrato de trabalho temporário bem escrito e que não caracterize vínculo empregatício. Contratar um freelancer sem um bom contrato de trabalho expõe o empreendedor ao risco de contrair um processo judicial que poderá custar não só a empresa como também seus bens pessoais.

Os freelancers, normalmente, já apresentam contratos bem elaborados pois não é interesse deles ter algum tipo de vínculo. Porém, como estamos falando de um negócio, é preciso mitigar todos os riscos que podem colocar em xeque sua ideia, e seu patrimônio.

Eu já trabalhei como freelancer e abrir a minha empresa foi uma forma de garantir que não haveria vínculo empregatício entre eu e meus clientes. Normalmente todo freelancer acaba abrindo uma empresa no intuito de minimizar os gastos com impostos.

Construi o produto. E agora?

Construíram seu produto. Ele está na loja e já começaram os downloads. O que fazer? É aqui que a grande maioria dos negócios baseados em apps afunda. O custo de fabricar o produto é apenas uma variável numa equação bem mais complexa. É preciso, também, manter o produto. O seu produto precisa de manutenção preventiva, corretiva e de atualizações para que mantenha-se relevante.

A cada seis meses a tecnologia muda, adicionando aos dispositivos móveis mais e mais características. Esta evolução força o ciclo de vida do seu produto, que precisa ser planejado para adequar-se às novas tecnologias. Atualizações de frameworks, linguagens de programação, arquiteturas de processadores, novos hardwares e mais uma infinidade de coisas fazem com que o ciclo de vida do seu produto seja bem mais complicado do que parece.

O ciclo de vida do produto é, normalmente, ignorado.

Além disso, você precisa colocar novas características solicitadas pelos seus clientes, consertar defeitos, atualizar plataformas por conta de aumento de demanda. O ciclo de vida do seu produto é, normalmente, ignorado pelos empreendedores iniciantes. E isto causa um prejuízo enorme quando é descoberto quando o projeto já está em andamento. Muitas startups não conseguem passar deste ponto quando descobrem que precisam de mais dinheiro para manter o seu produto relevante no mercado.

E como fica a operação?

Não é apenas o ciclo de vida do seu produto que interessa. Como ficam os custos da operação da sua base tecnológica? O que acontece se o seu servidor cair? E se houver uma falha de segurança? E se um bug comprometer seu banco de dados?

A operação do seu sistema garante a disponibilidade do serviço para os seus clientes. No negócio de aplicativos, a operação é de suma importância. O seu sistema estará em operação 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Uma falha que coloque seu sistema em ponto de parada significa problemas para seus usuários e, possivelmente, aumento no número de desistências e desinstalações do seu aplicativo.

Assim, não basta fazer o seu produto e manter o seu ciclo de vida. É preciso, também, operar o seu produto. Não é absolutamente incomum ver projetos não levarem este fato quase óbvio em conta. Uma coisa que se aprende empreendendo é que mesmo o óbvio não é tão óbvio assim. Tudo depende de informação e aprendizado.

Tenha alguém de TI no seu barco

Se você não é da área de tecnologia mas quer empreender com isto, tenha alguém que seja bem versado em TI do seu lado. Tecnologia da Informação é uma ciência e não uma receita de doce. Muita gente super-simplifica o que é a TI e termina fechando a empresa por colecionar prejuízos com a falta de conhecimento e experiência exigidas pela área.

Lidar com tecnologia não é absolutamente fácil. São vários aspectos que precisam ser levados em conta, desde a aquisição de equipamentos, produtos e serviços até a implementação, operação e manutenção do seu produto. Sem auxílio você pode iniciar seu negócio com a base errada de tecnologia, consumindo recursos importantes desnecessariamente por falta de conhecimento.

Outro motivo importante para ter alguém de TI no seu barco, caso você seja da área de negócios: nenhum investidor colocará dinheiro na sua empresa se não houver quem conheça do riscado nela. Isto aumenta consideravelmente o risco do investimento. Algumas aceleradoras de startups, inclusive, não aceitam empresas que só tenha pessoas de negócios ou só pessoas de TI na sua composição societária.

Sem dinheiro não há negócio

Se você quer abrir uma empresa de tecnologia e não tem dinheiro, então não abra. A ideia de que você vai conseguir sobreviver com a cara e a coragem e depois vai dar certo começando na garagem da sua casa só existe em filme. Ah, mas a Apple começou assim. Claro, em um país onde o crédito é fácil e que exigiu a venda de bens pessoais dos sócios originais, culminando com o investimento de Mark Markkula — 250 mil dólares na época.

Se você não tem dinheiro para abrir o seu negócio, nem comece. Antes disso, arrume formas de levantar dinheiro, capitalize-se para só depois abrir sua empresa. Você vai precisar de dinheiro para dar o primeiro chute. Como você pretende contratar os programadores freelancers, alguém para tomar conta dos seus servidores e alguém para manter o produto funcionando depois? Dando uma participação numa empresa que não existe e que não fatura ainda?

Não seja infantil a ponto de achar que a sua ideia é a mais mirabolante do mundo. Todo mundo tem ideias encantadoras. O que importa, na verdade, é a sua capacidade de executar e não a sua ideia. Ideias excelentes mal executadas terminam com empresas mortas.

Não quero te desanimar

Bem, se você chegou até aqui desanimado com o que escrevi, um aviso: não desanime. A intenção deste artigo é alertá-lo sobre problemas que podem existir no seu plano de negócios e que são suficientemente graves para fazer com que todo o seu esforço seja para criar uma empresa que nascerá morta.

Muita, mas muita gente mesmo começa um negócio baseado em aplicativos sem ter o devido preparo e não leva em conta estas questões, e várias outras que não abordei aqui. O resultado é mais uma empresa que entra nas estatísticas negativas do Sebrae.

A sua ideia certamente é viável. Porém, tome cuidado com o seu planejamento para que ela torne-se a realidade com a qual você sempre sonhou e não um pesadelo medonho.