O último dia do ano é um dia para comemoração, principalmente em um ano no qual muitos não chegaram até o fim. Chegamos ao fim deste ano em meio a uma pandemia que reclamou a vida de muita gente. E no meio desta crise é importante olhar para trás e entender como foi o caminho que nos trouxe até aqui.

Assim, ofereço esta pequena reflexão que está longe de ser uma verdade. Trata-se da minha visão dos fatos que vivi e das lições que aprendi ao longo do ano e que eu gostaria de compartilhar.

2020: Um ano atípico

Este não foi um ano como outro qualquer. Foi completamente atípico. Nos deparamos com uma pandemia e com a falta de competência do Estado em lidar com a mesma. Veja, não estou aqui criticando o governo atual, mas a estrutura governamental que sempre se posicionou de forma negligente frente à saúde. Quando houve a pandemia do H1N1, o governo da época, então em 2009, pouco fez para se prevenir. Por sorte, o vírus não era tão infeccioso quanto o Sars-Cov-2.

A pandemia trouxe, também, a parada da economia. Mais da metade das empresas que fecharam as portas este ano foram diretamente influenciadas pela situação da pandemia. A “ajuda” que o governo deu as empresários foi basicamente nenhuma: o ambiente de empreendedorismo no Brasil, que sempre foi desfavorável, permaneceu assim.

No meio de toda este pandemônio ainda assistimos ao negacionismo crescendo à nossa volta, teorias da conspiração sendo tratadas como verdades e o ressurgimento de doenças já consideradas extirpadas por conta deste mesmo negacionismo. Por exemplo, o sarampo volta a ser uma preocupação da saúde pública por que muita gente tem deixado de vacinar-se e a seus filhos por acreditar em teorias conspiratórias baseadas em especulações sem fundamento real.

Infelizmente o negacionismo levará à extensão da pandemia, cujo efeito principal será catastrófico na economia do país. Já percebeu que você precisa desembolsar cada vez mais dinheiro para comprar as mesmas coisas? Estamos caminhando na direção do desabastecimento por conta dos efeitos negativos da pandemia, e das decisões políticas mal-sucedidas do Governo.

Chegamos até aqui

Apesar do cenário não ser dos melhores, é importante atentar-se a um fato simples: chegamos até aqui. Muita gente não chegou. Este fato, por si só, merece uma grande comemoração. O sucesso redefiniu-se para mim: chegar ao fim do ano com saúde e vivo demonstra o meu sucesso. Ainda estou aqui. Ainda posso trabalhar para mudar o meu destino.

Este ano eu tive o vislumbre de que sempre comemorei o feriado de ano novo pelos motivos errados. Este ano eu comemoro por que estou vivo e por que minha família está igualmente viva e com saúde. Dinheiro, poder, nada disso tem valor. O que tem valor de verdade é estar vivo, pois é estando vivo que você tem o poder de construir algo neste mundo. Quando a vida se vai, o seu corpo torna-se matéria em decomposição que só terá valor para os fungos, bactérias e plantas que viverão dos seus restos.

É uma constatação dura, mas importante e libertadora. Essa foi uma lição importante que aprendi em 2020. Chegar até aqui tem muito mais valor do que todo o dinheiro que ganhei e perdi em 2020 pois tenho a oportunidade de continuar a minha história neste planeta.

O bom, o mau e o feio

2020 mostrou o lado bom e o lado mau das pessoas. Muita gente demonstrou a sua feiúra através de atitudes que exacerbam a soberba e a falta de empatia para com o próximo. Não faltam vídeos de pessoas agredindo gratuitamente empregados de fast-food, ou casos de violência doméstica.

O feminicídio nunca esteve tão alto como neste ano de 2020. Isso sem falar em racismo, homofobia e mais uma enormidade de coisas ruins que se tornaram mais evidentes este ano. 2020 foi o ano de expor a feiúra humana, trazendo-a à luz.

Eu fui obrigado a encarar minha própria feiúra e entender que carregamos sombras além de luz. Aceitar as sombras foi, também, algo libertador. Afinal, ninguém é perfeito. A perfeição cabe aos deuses, não aos astronautas, ou seja, nós.

Há sempre esperança

Apesar de todo o cenário atual ser desfavorável, eu acredito que 2021 será melhor. O pior já passou, na verdade. Estamos aqui. Sabemos que a economia está indo para o buraco. E entender o ponto onde nos encontramos é a melhor defesa contra o que está por vir.

Não arrisco dizer como será 2021 por que não sou vidente. Será diferente. E cabe a cada um de nós fazer de 2021 um ano melhor. Tenho esperança que seja um ano com mais tolerância e compreensão, com menos soberba e agressão.

A verdade é que 2021 é um ilustre desconhecido. Podemos especular, com base nos fatos atuais, como será o ano que inicia-se amanhã, quem sabe até com certa precisão. No entanto, 2020 nos ensinou que se há algo certo no futuro é o imprevisto. Em Dezembro de 2019 ninguém poderia afirmar que o mundo passaria um ano inteiro parado, de joelhos, por conta de uma criatura, se é que pode-se chamar assim, menor que um grão de areia.

Abraçar o desconhecido é libertador. Saber que não controlamos os rumos da vida, mas que fazemos parte de um tecido no qual estamos todos interligados, nos coloca no nosso devido lugar. Apesar da nossa falta de controle, influenciamos o espaço à nossa volta o suficiente para podermos orientar as nossas próprias vidas.

E assim espero que seja 2021: imprevisto, porém com a esperança de que tudo será melhor não só para mim, para para todos.

Feliz 2021!