Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

Sobre os ecossistemas de empreendedorismo

Quando o ecossistema é um "egossistema"

Sobre os ecossistemas de empreendedorismo

Os ecossistemas de empreendedorismo têm se popularizado nos últimos anos no Brasil, principalmente por conta da ascensão das startups. No geral, um ecossistema deveria criar um ambiente favorável aos empreendedores, principalmente em um país que desfavorece muito a criação de novos projetos.

Porém, nem sempre o ecossistema é favorável. Em alguns casos, o que é chamado de ecossistema é, na verdade, um grupo fechado de poucos empreendedores que não tem lá muito interesse no bem comum. Antes de chegar ao ponto, vamos à algumas definições que considero importantes como base de argumentação.

De acordo com a Wikipedia:

O ecossistema é definido como sendo o conjunto formado por comunidades bióticas que habitam e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que exercem influência sobre essas comunidades. Segundo o advogado brasileiro José Afonso da Silva,o ecossistema é constituído por dois elementos inseparáveis, uma área (biótopo) e um conjunto de seres, que o ocupa (biocenose) em uma continua interação mútua.

Trata-se de um conceito da biologia. E dentro deste conceito está claro que existem comunidades como parte do todo.

Não existe uma entidade única

Como diz a definição da Wikipedia, não há uma entidade única participando de um ecossistema. Trazendo o conceito da biologia para o empreendedorismo, a definição sustenta-se: todo ecossistema de empreendedorismo é formado por diversas comunidades que interagem entre si de alguma forma. Assim, não existe uma entidade única que determina como a coisa funciona, mas diversas entidades cuja atuação individual determina todo o comportamento do ecossistema.

O que é interessante neste conceito é que não existe um ponto central ou uma coordenação central que define as coisas. Existem iniciativas que interagem entre si, cada uma com um foco específico, cada uma dentro de uma determinada comunidade. E a interação entre as comunidades é que, em última instância, fornece o comportamento de todo o ecossistema.

Quando existe um “egossistema”

O “egossistema” acontece quando uma entidade ou iniciativa quer tornar-se referência única dentro de um determinado ambiente. As características gerais normalmente são a exclusão de pessoas que não concordam com as diretrizes, a tentativa de tomar para si crédito por eventos ou acontecimentos do entorno e a centralização.

Não existe ajuda neste contexto. É cada um por si, todos querendo aparecer mais que o outro. Não existe ambiente favorável ao empreendedorismo. Existe, sim, concorrência para saber quem vai aparecer mais que o outro. É um ego querendo ser maior que outro ego.

Trata-se de um ambiente tóxico e exclusivo, que pouco ou nada contribui para o ambiente no qual está inserido. Na verdade, é uma comunidade que quer, para si, conquistar e sobressair-se sobre todas as outras, de maneira normalmente predatória.

Como construir um ecossistema saudável

A primeira palavra do dia: ser inclusivo. Se você quer um ecossistema de empreendedorismo na sua cidade, saiba que o pipoqueiro é tão empreendedor quanto o CEO daquela startup badalada de tecnologia. O cara do food truck de cachorro-quente é tão empreendedor quanto o relojoeiro ou o fundador daquela fintech que recebeu aportes milionários.

No entanto, cada grupo de interesse precisa organizar-se em comunidades específicas por que as pessoas são diferentes, têm problemas diferentes e precisam de ambientes propícios para exporem-se e a seus negócios. As dores de um vendedor de tomate da feira são completamente diferentes das dores de um CTO de uma martech.

As comunidades não precisam ser tão inclusivas, mas o ecossistema sim. Afinal, o ecossistema é formado pela soma das comunidades e a interação entre as comunidades é quem determina se o ecossistema é favorável ou não.

Seu ecossistema é saudável?

Give before you get it. Contribuir com a sua comunidade, e com o seu ecossistema, são coisas essenciais para que o ambiente torne-se saudável. No entanto, quando você apenas give e não tem um get it, o ecossistema não está crescendo: está te explorando.

Você não deve fazer as coisas esperando retorno. Na verdade, o retorno deveria ser natural: oportunidades de negócio, networking, oportunidades de capacitação, etc. Porém, quando isso não acontece, há algo errado: você está contribuindo, platando mas há outros colhendo e não deixando nada para que você mesmo possa colher.

É como uma horta comunitária: você planta, dá água para as plantas, mas quando vai colher não há nada para você. Quando o seu ecossistema funciona assim o melhor a fazer e desligar-se dele. Caso contrário, você estará trabalhando para sustentar algo insustentável que, futuramente, cobrará um preço bem alto de você.