Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

A arte de desistir

Nem sempre desistir é uma má ideiia. Às vezes é a única saída.

A arte de desistir

Já ouviu aquela máxima que você não deve desistir nunca? Poético, porém inverídico. Muitas vezes o melhor é realmente desistir do que insistir. Tudo depende de avaliação, desapego e, por fim, tomada de decisão. E uma vez tomada uma decisão, viva com ela.

Eu desenvolvi, ao longo dos anos, uma visão mais positivista das coisas. Eu vejo cada coisa como uma ferramenta dentro da minha caixa de ferramentas. Desistir é uma ferramenta poderosa e, por isso, precisa ser usada com bastante cautela. Mas por que desistir pode ser uma coisa boa?

Somos muito apegados

Nós, ocidentais, somos excessivamente apegados às coisas. Compramos algo e temos dificuldade em nos desfazer desse algo quando deixa de ser útil. Juntamos pilhas e pilhas de coisas inúteis por que custou caro ou por que foi minha tia quem me deu.

Curiosamente, fazemos a mesma coisa com o resto de nossas vidas: não trocamos de emprego por que o chefe é meu amigo, mesmo que o emprego seja uma merda; não mudo de cidade por que acostumei a morar aqui, mesmo que eu deteste a cidade. Sempre há uma justificativa para o nosso apego. E para nos fazer largar do osso é dose. Cravamos os dentes com todas as forças e não queremos soltar de jeito nenhum.

O apego, muitas vezes, é uma âncora que amarramos na perna e largamos enraizada no chão. Isto nos impede de seguir adiante e de vivermos em plenitude. Mas somos apegados por que fomos, essencialmente, treinados para isso.

Desistir é desapegar

A língua portuguesa é linda. Ao falarmos, parecemos estar cantando. É uma língua cuja fonética é maravilhosa e poderosa pela quantidade de vogais que normalmente falamos. Porém, há uma limitação: muitas vezes a mesma palavra significa diversas coisas, dependendo do contexto em que é escrita ou falada.

Com a palavra desistir é a mesma coisa: ela pode ter um significado negativo, dependendo do contexto. Por exemplo, desistir da vida pode levar à uma interpretação negativa, ou seja, o suicídio. Porém, também pode levar à outra interpretação: desistir da vida atual para buscar uma nova vida. O contexto estabelece o real significado.

E assim, chegamos a cerne da questão: desistir, neste contexto, é terminar algo para começar algo novo. Desapegar da vida antiga para começar uma nova. Cansou da cidade onde vive? Mude de cidade. Cansou do carro velho? Venda-o imediatamente.

De onde veio este pensamento?

Tenho realizado, ultimamente, um exercício constante de desapego. Revirei minhas coisas e me desfiz de uma montanha de coisas inúteis que vinha juntando ao longo dos anos. Neste movimento de renovação, tenho desistido de muita coisa e por isso queria compartilhar a experiência através deste texto.

Primeiro, estou desistindo da Apple. Assim, desisti de fazer apps para smartphones. Para mim é um mercado que já deu o que tinha que dar. Não vou mais trabalhar com isso. E assim venho desistindo de uma série de pequenas coisas, mas sempre sem olhar para trás.

Qual a sensação? Liberdade. É como se eu estivesse tirando meus pés de grilhões que me prendiam, me seguravam. Estou experimentando novas tecnologias, voltando a olhar outros horizontes. O resultado é um aprendizado e um desafio contínuos, algo instigante.

Neste caso, desistir é um desapego, um passo essencial para a transformação. Estou deixando o velho eu para trás para buscar um novo eu, com novas experiências e novos desafios.

Desistir é uma arte. É preciso desistir daquilo que nos prende, que nos segura. Para seguir adiante, algo precisa ficar para trás. Sem isso, algo dentro de nós permanece adormecido e raramente acordará. Aquele que dorme precisa acordar!