Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

Você ainda usa SQLite no iOS

Existe coisa melhor do que escrever select na mão.

Você ainda usa SQLite no iOS

Muitos programadores iOS ainda insistem em usar SQLite como storage dos seus aplicativos sem se dar conta de que existe algo muito melhor, mais confiável e que já traz uma série de funcionalidades prontas e bem integradas ao Cocoa Touch.

Sim, é válido usar o SQLite para salvar suas coisas e organizar a persistência do seu app. Porém, é preciso escrever muito boiler plate code para iniciar o database, ler e salvar coisas. Além disso, coisas como undo, redo e garantia de salvamento se tornam tarefas enfadonhas com o SQLite, exigindo toda uma camada de código chatíssima de ser feita e que, via de regra, acaba virando um monte de código repetido para cada projeto.

Sim, meus caros amigos, existe coisa melhor do que o SQLite. O mais curioso é que o driver padrão para salvamento de dados é justamente o SQLite. Estou falando de uma tecnologia do Cocoa e Cocoa Touch chamada Core Data. Antes de ir adiante, permitam-me discorrer sobre o que o Core Data não é: um banco de dados.

O Core Data não é um banco de dados. Tampouco pode-se considerar o Core Data um ORM. O ORM é usado para mapear um banco de dados relacional para um grafo de objetos, compatibilizando os dois modelos. O Core Data não faz isso. Na verdade, o Core Data implementa um grafo de objetos com a possibilidade de persistir este grafo de alguma forma. Como é projetado em camadas de maneira desacoplada, uma mudança no esquema de dados não reflete uma mudança no grafo de objetos, como o faria um ORM.

O Core Data suporta dois tipos de store: os stores atômicos e os stores incrementais. Os stores atômicos são úteis quando é necessário salvar todo o grafo de uma vez e quando o grafo é suficientemente pequeno. O XML é um exemplo de store atômico. O store incremental é usado para grandes volumes de dados, sendo que um dos padrões é o store baseado em SQLite.

O fato é que os conceitos que envolvem o Core Data são um pouco mais complexos devido aos cenários para os quais o mesmo foi adaptado para funcionar. A própria Apple diz que o Core Data é uma tecnologia sofisticada e sou obrigado a concordar com eles. E como toda tecnologia sofisticada, há suas pegadinhas.

Mas, vale a pena aprender a usar o Core Data? A resposta é um estrondoso sim. As vantagens oferecidas pela tecnologia são muito superiores à dificuldade inicial de aprender a usá-la. Algumas coisas que o Core Data lhe dá de graça:

  • controle de undo, redo automático, com integração ao shake to undo do iPhone, sem necessidade de boiler plate code.
  • garantia de persistência quando o aplicativo é desligado pelo usuário.
  • lazy load dos dados, o que economiza memória e outros recursos.
  • faulting, um recurso que permite que uma instância seja carregada da persistência uma única vez, independente do contexto onde isso acontece.
  • Migração de dados automatizada, com inferência de mudanças em casos simples e alterações simplificadas em casos mais complexos.

Esta é uma lista tímida e pequenina dos benefícios, esta é a verdade. Estes são os pontos que considero os mais importantes da tecnologia, com especial atenção ao Lazy Load e ao Faulting.

O Lazy Load é tão fantástico que se um objeto tem uma dependência de outro através de uma propriedade, a propriedade só é carregada quando alguém faz uma referência a ela através de um getter ou setter. Isso pode parecer pouco, mas economiza um bocado de memória, fazendo com que a gestão do grafo de objetos seja o ponto alto do Core Data.

O Faulting é outra coisa fantástica. Se você alterar um objeto em um contexto e depois usá-lo em outro, as alterações que você realizou já serão acessíveis pois não é necessário recarregar nada da persistência pois o Core Data garante que um objeto deserializado sempre será o mesmo, não importa onde você o obteve. Assim, você pode obter uma instância em um controller e depois em outro controller que é garantido serem exatamente a mesma instância.

Outra coisa bacana é o editor de modelo de dados. É todo visual. Você cria as classes, cria relacionamentos, atributos, validações e mais uma série de coisas sem a necessidade de escrever absolutamente nenhuma linha de código. Por outro lado, também é possível definir toda a sua estrutura de classes por código.

As buscas no Core Data são feitas através de fetch requests. Você pode ordenar os resultados da mesma forma como ordena arrays, através de sort descriptors. A filtragem dos resultados é obtida através de predicates. Ou seja, toda a tecnologia está muito bem integrada ao restante do Cocoa e do Cocoa Touch.

Efetivamente programa-se integralmente em Objective C ou Swift, sem a necessidade de escrever algo numa linguagem de consulta. O código, portanto, fica bem homogêneo, sem strings com instruções como select ou update.