Você é livre para escolher
Mas é responsável por suas escolhas.
Há algum tempo atrás meu grande amigo Abel Passos apresentou uma palestra provocativa e cativante no TEDx em Belo Horizonte. Vale a pena gastar 15 minutinhos do seu tempo para assistir à palestra, que te faz parar para pensar.
Neste artigo, eu olho para o mundo do empreendedorismo através da lente do tema abordado na palestra do Abel: as escolhas e a responsabilidade que as acompanha. Não é incomum ver alguém culpando um terceiro pelas escolhas que ele mesmo fez, na procura vã e eximir-se da responsabilidade que acompanhou a escolha feita. Não se assuste: isto é assim desde que Homem desceu das árvores.
Pode parecer um assunto muito filosófico para tratar do ponto-de-vista do empreendedorismo, mas não é. Na verdade, trata-se de um assunto suficientemente geral e de tal importância que acaba por tocar praticamente todos os aspectos das nossas vidas.
A escolha é algo tão intrínseco das nossas vidas que fazemos escolhas a todo segundo. Por exemplo, escolhi escrever sobre este assunto e, enquanto escrevo, escolho as palavras que darão o brilho adequado ao tema. Enquanto empreendedores, tomamos decisões a todo minuto no intuito de manter nosso negócio funcionando. Decisões são escolhas. Simples assim.
E toda escolha que você faz vem acompanhada da responsabilidade pela escolha. Escolheu comprar um carro com o dinheiro da empresa para impressionar a vizinhança? Isso levou sua empresa a quebrar o caixa? Você escolheu isso. As consequências das suas escolhas são sua responsabilidade e não adianta culpar o sócio, o padre ou Deus. A responsabilidade está nas suas costas.
Dito isto, permitam-me compartilhar um pouco da minha experiência no que diz respeito às escolhas que fiz e faço nas empresas por onde passei, que fundei e nas que estou hoje.
Informação sempre, sem ignorar o feeling
Nunca tome decisões sem um mínimo de informações. Fatos são muito importantes. Analise-os e entenda o que os fatos lhe dizem. Porém, nem sempre é possível basear sua decisão exclusivamente em fatos e informações. Em várias situações, você terá pouco tempo para decidir e poucas informações disponíveis. Colete o que puder e monte um cenário para que você possa decidir de cabeça fria.
Porém, jamais ignore o seu feeling. Nós, humanos, desenvolvemos um senso sobre as coisas que não conseguimos explicar. Não há nada de sobrenatural nisto. Trata-se da forma como nosso sub-consciente atua no nosso dia-a-dia. O nosso cérebro registra bem mais informação do que você imagina, algumas subliminares e várias outras baseadas no ambiente à nossa volta: cheiros, mudanças de temperatura, sons, e tudo quanto é coisa que ative algum sentido nosso.
O feeling nada mais é que o resultado do processamento do nosso subconsciente com base em dados diversos que foram registrados independentemente pelo cérebro. E isso pode salvar o dia.
Porém, não baseie-se somente no feeling. Use dados, transforme-os em informação. Entenda, no entanto, que você quase nunca terá tudo o que precisa e terá de mergulhar numa piscina escura sem saber a profundidade. E é importante que uma vez tomada sua decisão, você assuma a responsabilidade por ela.
Não há certo ou errado
Ao olhar para o passado você poderá julgar que determinada decisão foi incorreta. Será mesmo? Tudo depende de contexto. Olhar para o passado permite que você ligue os pontos de forma simples. Afinal, você tem todas as informações sobre o que aconteceu. Porém, quando você estava vivendo os eventos não era bem assim: faltavam informações, você possivelmente não tinha recursos suficientes para ditar uma direção correta e tomou a melhor decisão que poderia tomar no contexto da época.
O tempo pode mostrar-lhe que sua decisão foi equivocada com relação aos seus objetivos. Porém, não dava para saber disso quando você tomou a decisão. E se as consequências tivessem sido outras? Isso faria a decisão mais acertada?
A verdade é que existe um universo de coisas que podem acontecer depois que você toma uma decisão. Pense na vida da sua empresa como um processo que pode sofrer interferências e distúrbios dos mais variados, distúrbios estes que são de natureza completamente aleatória. Ou seja, não é possível prever o que vai acontecer neste cenário.
Isto faz com que uma decisão não seja nem certa, nem errada. É apenas uma decisão. O desenrolar de eventos posteriores é o que determina se as consequências foram as que você pretendia ou não. Porém, independentemente do resultado, você continua responsável pela decisão.
Evidencie suas decisões
Tomou uma decisão? Evidencie-a! Que seja por uma anotação, um documento de ata, não importa. Evidencie que você tomou a decisão e saiba quando foi que a mesma aconteceu. Marque na agenda, coloque uma data e uma hora. Isso localizará no tempo o que você decidiu e lhe permitirá avaliar, futuramente, as condições nas quais a decisão foi tomada.
A evidência permite que você revisite suas decisões e faça uma avaliação de como conduziu a situação. Ou seja, trata-se de um aprendizado. Não dá para acertar sempre, mas é importante que o aprendizado o permita errar cada vez menos. Isto é uma otimização das suas habilidades.
Responsabilidade não é um fardo, mas uma dádiva
Para finalizar, cabe falar um pouco sobre a responsabilidade que acompanha cada escolha que fazemos na vida. Muita gente lê a palavra responsabilidade como se isto fosse um fardo, um peso. Na verdade, não é. A responsabilidade, na minha curta visão, é um privilégio, uma oportunidade de crescimento.
Ao entender que você é responsável pela suas escolhas, sua atitude muda. Você fará o que for necessário para que sua escolha tenha sido a melhor escolha. Você aprenderá o que for preciso e sujará as mãos para que a sua escolha seja materializada como um sucesso.
Afinal, você é livre para escolher, mas torna-se escravo da sua escolha tão logo esta seja feita. E a responsabilidade é a cola que une você à sua escolha. Sem a responsabilidade, você escolhe de forma irresponsável e sem avaliar corretamente os cenários aos quais sua escolha pode te levar.