Ronaldo
Ronaldo Desenvolvedor, pai, cidadão do mundo.

Pai

A continuidade da vida

Pai

Um dia eu fui filho. Apenas isso. Filho. Via no meu pai um herói, aquela pessoa perfeita, incapaz de errar. O tempo passou e a infância ficou para trás. Meu pai transformou-se de uma visão da perfeição em um ser humano igual a mim, imperfeito, cheio de problemas, frágil até. Não era o herói que eu pensava que fosse. Mas nem por isso deixei de admirá-lo na força de sua convicção, nos sacrifícios que teve de realizar para manter os filhos da melhor forma que conseguisse. Aprendi a valorizar aquele homem que deixou tanto para trás para criar os filhos.

Hoje, troquei de papel. Quem sacrifica-se sou eu. E nada do que faço pelos meus filhos considero um sacrifício, mesmo por que não é. É o esforço pela manutenção da vida, da minha linhagem. É a continuidade. É a promessa de que meus genes vão permanecer, que uma parte de mim será perpetuada.

Ver nos rostos deles traços meus, de meus antepassados é como ler um livro no qual está estampada uma história de gerações, cujos novos capítulos serão escritos pelos pequenos, pelas suas mãozinhas e seus rostos angelicais.

Desde que me tornei pai abandonei o medo da morte. A morte tornou-se necessária. É o que garante que haverá lugar para eles, os meus filhos. Se eu permanecer, estarei ocupando o lugar que é deles e não mais me pertence. Hoje eu sou apenas um ocupante que prepara o assento para que eles possam se acomodar no futuro. O nosso lugar é temporário, assim como será o lugar deles.

O que me liga aos meus filhos não é aquele amor visceral como o que une a mãe aos filhos. É algo mais etéreo. Eu não os carreguei no meu ventre. Eu não os senti crescendo dentro de mim. O amor que existe entre um pai e seus filhos é algo mais etéreo, cuja linha é facilmente cortada, o que explica a quantidade de pais que sequer querem a companhia dos filhos.

Porém, o que sinto pelos meus filhos é poderoso. É um amor incondicional. Não preciso de nada para amá-los. Não preciso de nada para dar minha vida por eles. Eles são, simplesmente, as duas pessoas mais importantes da minha vida. Como eu disse, são a promessa da minha continuidade na Terra, a porta da minha imortalidade. Muito mais do que isso, são criaturas que trilharão seus caminhos completamente sem o controle da minha vontade, e que construirão suas vidas de acordo com os seus próprios anseios.

Ser pai é ser um professor. É ensinar tudo o que se sabe, e aprender muito mais, para que seus filhos possam seguir sem você. Ser pai é abrir mão da sua própria existência em detrimento aos filhos, concedendo a eles a continuação da sua própria vida sem, contudo, cobrar-lhes deles um objetivo. Ser pai é ligar-se ao que há de mais divino na raça humana, e ver essa divindade crescer na forma de duas crianças que um dia serão adultos e passarão por este exercício de continuidade.

Ser pai é uma dádiva, uma bênção. Ao me tornar pai eu vislumbrei o quanto minha vida era preto-e-branca antes da minha filha nascer. Hoje os meus filhos são a aquarela deste quadro chamado vida, minha vida. Eu desenho em preto-e-branco e eles pintam com cores vivas.

Feliz dia dos pais!