Quando somos crianças, nossas primeiras experiências no mundo são simplesmente mágicas. As novidades saltam aos nossos olhos como coisas simplesmente mágicas e intrigantes. As experiências são imersivas e poderosas. Até que ficamos adultos.
Com o passar dos anos a magia do mundo desaparece. Mudamos nossas crenças. Algumas crenças simplesmente abandonamos. Outras, substituímos por novas. O mundo passa a ter explicação, a ser um compêndio de coisas previsíveis, mesmo quando acontecem sem o nosso controle. O mundo torna-se árido.
Afirmo que o mundo é mágico. Olhe à sua volta. Olhe no asfalto da rua da sua casa: no meio da rua, em alguma rachadura, alguma planta está crescendo, se esforçando para germinar em um lugar completamente improvável. Sabe aquele bolo que você esqueceu dentro do armário? Está saltando de mofo, micélios intermináveis emaranhando-se por dentro da sua estrutura, fermentando o bolo e tornando-o intragável, mas não menos mágico.
A vida é uma magia, uma manifestação insistente neste mundo que deveria ser levada mais à sério. A vida se manifesta até mesmo onde é improvável encontrá-la. E basta pensar: como elementos que são forjados nas caldeiras colossais das estrelas podem combinar-se de tal forma a tornarem-se animados, com vontade própria, capazes de traçar seu próprio destino?
Como elementos combinados ao acaso podem começar a processar outros elementos, gerando energia e movimento? Como estes mesmos elementos podem dividir-se e criar novos indivíduos com as mesmas habilidades? Isto, meus amigo, é magia. Uma criança crescendo no ventre da mãe é algo mágico. De uma combinação microscópica, quase unicelular, torna-se um indivíduo completo, capaz de exprimir sua própria vontade.
Nós criamos um modo de vida artificial que tolheu a contemplação. Não contemplamos o mundo, o universo colocando à nossa volta. Contemplamos coisas muito mais simplórias, irrisórias e completamente sem importância como carros, dinheiro, poder.
O mundo à nossa volta é muito mais cheio, imprevisível e descontrolado do que imaginamos. Teimamos em criar ambientes controlados, seguros. A verdade é que o mundo é um grande turbilhão descontrolado de eventos que seguem-se encadeando-se, emaranhando-se e combinando-se de maneira a formar a realidade que nos cerca. Mesmo a realidade é algo dependente do ponto-de-vista, pois nossas capacidades distintas distorcem nossa sensibilidade e, consequentemente, a nossa percepção da realidade.
Contemplar o mundo, o universo é contemplar a si mesmo. Estamos circunscritos ao universo. Fazemos parte dele. Somos constituídos pela mesma matéria que existe no universo. Somos manifestações. As condições se tornaram favoráveis para que pudéssemos nos manifestar. Espontaneamente. E aqui estamos, vivendo nossas vidas distraidamente, sem nos dar conta da magia que acontece à nossa volta.
Criamos um mundo de sonhos, esta é a verdade. Estamos dormindo. E alguns de nós permanecerão dormindo até a morte. Jamais perceberão que estão sonhando. Porém, despertar não é uma tarefa fácil. Mas é uma tarefa necessária.