Empresário: um bicho de sete cabeças?
De vez em quando eu esbarro com alguém descendo a lenha no empresário brasileiro, usando como argumentação a ideia de que o empresário vive a custa de altíssimos lucros. Esse tipo de generalização não cabe, na minha opinião. Quem tem esse tipo de discurso não faz a menor ideia do quanto é difícil abrir e manter uma empresa no Brasil e desconhece por que não há nenhuma empresa brasileira que tenha o porte de uma Apple ou de uma IBM.
Empreender no Brasil é um desafio por si só. O crédito é difícil, o que significa dizer que o dinheiro aqui é um recurso muito mais caro do que em outros países. A carga tributária é também um problema. Temos leis trabalhistas antiquadas, que oneram sobremaneira a folha de pagamento. É preciso muito mais cuidado para se contratar alguém no Brasil do que em qualquer outro país. Qualquer deslize e sua empresa já era por conta dos encargos sociais.
Muita gente defende cegamente o aumento do salário mínimo, mas não enxerga que há outros fatores que precisam ser levados em conta também. Eu sou de opinião que o salário mínimo deveria ser, pelo menos, o dobro do estipulado pelo governo atualmente. Porém, se isso for feito às cegas, já era a indústria brasileira. O fato é que cada empregado custa ao empresário quase o dobro do salário, dependendo do regime tributário da empresa. Assim, se você recebe R$ 1.000,00 bruto, o seu patrão paga quase R$ 2.000,00 sendo que grande parte disso é encargo social que vai para as mãos sedentas do governo.
Existe uma cultura estabelecida no Brasil que é errado ser empresário. O empresário é quase que um bicho de sete cabeças. Bom, o empresário é quem gera empregos. Afinal, se o negócio cresce é preciso contratar pessoas para ajudar. Existe uma concepção de que o empresário trabalha pouco e que ganha muito às custas dos empregados. Essa concepção vem da época da revolução industrial, dos grandes capitães da indústria que contratavam os empregados em condições péssimas de trabalho. Mas isso foi no Século XIX. Trata-se de uma concepção equivocada se aplicada aos dias de hoje.
Hoje temos muito mais competição, vivemos em um mercado globalizado no qual somos obrigados a competir de igual para igual com profissionais muito mais qualificados de outros países. Simplesmente não dá para ser competitivo se a relação de emprego for a mesma do Século XIX. Impossível criar-se uma empresa hoje em dia com essa mentalidade. É abrir num dia e fechar alguns meses depois. As leis trabalhistas brasileiras, por exemplo, já são antiquadas e limitam sobremaneira a competitividade das empresas frente ao mercado internacional.
A verdade é que caminhamos, cada vez mais, para uma economia colaborativa. Trata-se de um princípio sustentável em que todos os participantes ganham sem haver um explorado ou uma classe minoritária que sofre opressão. Esse discurso de proletariado morreu no Século XX juntamente com o socialismo colapsado de países como a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O discurso capitalista também é coisa do século passado, pois o capitalismo, por si só, não é sustentável. Hoje vivemos uma versão em transformação do que foi o capitalismo e caminhamos para a economia colaborativa, a passos largos.
O mundo à nossa volta mudou. E, portanto, precisamos mudar essa visão dogmática e estreita que temos hoje no Brasil para que possamos ter competitividade frente ao mercado internacional. Nós brasileiros podemos mais. Somos um povo inteligente, sagaz e somos capazes de muito mais do que podemos sonhar. Porém, precisamos sair do pensamento mesquinho e apequenado que está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia.
Sou de opinião que a solução para a nossa economia é apostar nas empresas pequenas, criando um ecossistema forte e colaborativo onde todos saem ganhando. Exemplos não faltam no Brasil: Sururu Valley, San Pedro Valley, Porto Digital, Supera em Ribeirão Preto e tantas outras iniciativas inovadoras que estão pipocando pelo Brasil afora que estão redefinindo a nossa indústria.